domingo, 12 de outubro de 2008



TRUCO, VALE SEIS!


Com a crise americana, uns gritam, outros fogem. E quem ganha?

Mitsi Coutinho Lages


Sem dúvida, não está sendo possível aos Estados Unidos lavar sua roupa suja em casa. Mas isso é o que podia acontecer com quem sempre forçou a globalização no mais agudo fisiologismo. Afinal, a lei do retorno das boas e más ações - e aqui não se trata de ações da bolsa, mas das humanitárias - não poderia faltar neste momento, porque os americanos sempre enfiaram sua colher de pau na panela dos outros povos, e com isso muito se expuseram de modo que o mundo inteiro está de olho neles.

Como em um jogo de perdas e ganhos, onde a sorte é bem vinda mas a observação e astúcia são fundamentais, neste momento, todas as nações estão ganhando, excluindo-se, é claro, os Estados Unidos. É possível que venha romper ou, no mínimo, enfraquecer esse Império American Way Of Life Globalizador do Capitalismo. Ainda que sinistras conseqüências econômicas possam afetar países, a lição que essas nações vão extrair poderá ser de grande valia: a de perceber que o seu próprio comando é o mais saudável instrumento de governo. Pode não lhes trazer desenvolvimento em alta escala, mas certamente o trará na mesma proporção das necessidades de seu povo, de forma que esse povo se sinta feliz pelo que deseja e não, pelo que lhe é imposto.

Vem ardendo há dias a fogueira fomentada pelos partidos políticos que discutem o papel do governo americano, o próprio poder executivo, os bancos e o povo. De um lado, estão os detentores de investimentos de alto risco, simbolizados por Wall Street, que esperam do governo o pronto socorro no resgate do que se pode chamar de "papéis podres"; de outro, o Main Street, representado pela economia como um todo e que já sente as dores da crise. Se Wall receber ajuda, o governo deve impor regras e limites para que as mesmas práticas desvairadas não voltem a acontecer, caso contrário ocorrerão falências e conseqüente desemprego em massa.

Interessante é conhecer artigo publicado no jornal alemão Der Spiegel, intitulado "Estados Unidos da América: o país onde o fracasso é recompensado". Esse periódico comenta que "há 100 anos atrás o alemão Georg Simmel criticou os bancos por ficarem cada vez maiores e mais poderosos do que as igrejas". Para esse jornal "nos EUA há os 'desinibidos', que não se acanham em admitir a falta de cautela, o desperdício extravagante e a cobiça onipresente", o que eles próprios chamam de American way of life (estilo de vida americano); seus membros vivem no aqui e no agora, sem se preocupar com o futuro". Basta olhar para Southampton, perto de Nova York, que é "um reduto da elite endinheirada com castelos de contos-de-fada à beira mar".

O mesmo jornal germânico cita Karl Marx, quando o filósofo afirmou que "com um lucro apropriado, o capital é despertado; com 10% de lucro, ele pode ser usado em qualquer lugar; com 20% torna-se vivaz; com 50% fica positivamente ousado; com 100% ele esmagará com os pés todas as leis humanas; e com 300%, não existe crime que ele não se disponha a cometer, ainda que se arrisque a ir para a cadeia". A isso, pode-se ilustrar com o que foi dito pela psicanalista Maria Rita Kehl: "A raiz da violência? Está onde sempre esteve: do lado das elites. Na falta de escrúpulos justificada pela lógica do capital. Na impunidade. Na ganância". Voltando ao artigo do Der Spiegel , é dito que "o capitalismo norteamericano ainda não morreu, mas está simplesmente preparando o seu próprio falecimento".

É preciso lembrar que o Império Romano tornou-se um dos maiores da antigüidade. Possuía balneários opulentos para seus senadores e membros da aristocracia, escravizou povos que passaram a pagar-lhe impostos, criou a política do >Pão e Circo para desviar ardilosamente a atenção da população carente e tratava o Mar Mediterrâneo de Mare Nostrum. No entanto, devido à "corrupção e gastos com luxo" sucumbiu no ano 476. Que essa lição de agora sirva para reconhecermos que o mundo é uno em sua origem, na semelhança dos povos entre si. No entanto, a ele pode-se aplicar o poema de Gibran Khalil no que diz respeito à união pelo casamento: "...Cantai e dançai juntos, e sede alegres; ... e viveis harmoniosos, mas não vos aconchegueis demasiadamente. Pois as colunas do templo erguem-se separadamente, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro".